sábado, 31 de março de 2012

Boa ideia


Era agosto de 2007, você estava com 3 anos. Fui te buscar na escola. Você, extremamente sensível e esperto, perguntou:
- Por que você foi me buscar na escola?
- Ah, hoje fiquei dodói e não fui trabalhar.
- Mãe, teu "dono" te expulsou do trabalho, foi?
- É, filho, mamãe não trabalha mais na loja.
Você ficou bravo e falou algumas coisas que pretendia fazer com meu ex-chefe. Falei que era assim mesmo e que logo eu arrumava outro emprego. Aí passamos na frente de uma loja de colchões que estava inaugurando e estavam distribuindo panfletos. Você pegou um, olhou e disse:
- Mãe, tu sabe vender cortinas, então sabe vender colchões.
Quase sem conseguir enxergar, com lágrimas nos olhos, só consegui te colocar nos braços e te abraçar forte. Você olhou o panfleto e disse:
- Tive uma boa ideia, vou desenhar em papéis como esse e aí a gente sai pra vender na rua e ganha um dinheirinho.
Abracei mais forte ainda!

A Professora


Início das aulas de 2010. Você com 7 anos, chega pra mim no terceiro dia de aula, pedindo para mudar de escola. Indaguei o motivo.

- A professora desse ano é muito braba, impaciente e só fala gritando. E você sabe que eu não raciocino direito quando a pessoa fala comigo com grosseria. Não vai dar certo.

Foi um ano bem difícil, mas conseguimos superar.

Defensor da natureza


Era janeiro de 2010, você com 6 anos. Estávamos numa praia em João Pessoa. Ao nosso lado, uma moça brincava com duas crianças. A brincadeira era a seguinte: ela pegou uma maria-farinha e ficou fazendo dela diversão para as crianças. Quando a coitadinha conseguia fugir, ela pegava de novo e colocava dentro de um baldinho de areia para as crianças brincarem. Você olhava a cena indignado e reclamava comigo o tempo todo.

Aí a moça teve a infeliz ideia de se aproximar da gente, mostrando a maria-farinha já sem um olhinho para você, dizendo:
- Olha bebê, brinca com ela. Tem medo não, é mansinha.
- Você está destruindo a natureza.
A moça ficou paralisada, acho que jamais esperava essa reação de uma criança. Mas falou:
- Tô não, ela tá viva, ó...
E saiu, toda sem graça... sentou na areia com o baldinho... depois pegou o animalzinho e soltou... aí você disse:
- Já era, ela tá machucada, fraca e cega, vai morrer!
Foi como se um interruptor apagasse a moça. Acho que nunca mais ela brincou nem com uma formiga.

Isso é bullying


Ano passado, 2011, você com 8 anos, chega da escola me contando de um colega que tá sempre te chateando, xingando, batendo... o meu conselho foi que você chegasse pra ele e dissesse que não ia mais brincar com ele, que ele ficasse longe de você, pois era muito violento. Você, na sua sabedoria, me ensinou:
- Mas mãe, isso é bullying.

Sabe por que eu choro?


Essa é a minha preferida. Com 3 anos você era meio choramingão. Estava sempre carente de atenção. Aí perguntei:
- Filho, por que você chora tanto?
- Sabe por que eu choro?

"Eu choro para molhar o meu sorriso!"

Dicionário


Essa tá saindo do forno, aconteceu hoje, dia 31 de Março de 2012, você com 9 anos.
Em pleno sábado, você estudando, a tarefa era procurar palavras no dicionário.
- Mãe, sabe o que quer dizer camisa de vênus? Ouve só: Envoltório de borracha muito fina para cobrir o pênis nas relações sexuais para impedir a concepção ou evitar doenças contagiosas. Oxe, tudo isso pra dizer camisinha?
Ah, essa palavra não fazia parte da tarefa.

Aquela coisa que começa com S


2011, aos 8 anos, seu tio já integrava nossa família há 3 anos e você me sai com essa pérola.
- Mãe, por que você e meu tio não fazem aquele negócio que os adultos fazem toda noite?
- Tá falando do que, filho?
- Aquela coisa que começa com S e não posso dizer o nome.
- Sexo? Pode dizer sim. E você acha que os adultos fazem sexo toda noite?
- Menos vocês dois. Assim nunca vou ter um irmão.

Anel do poder


Ainda sobre o casamento de Erika e Benôni, o que você foi noivinho pela primeira vez, você estava muito curioso sobre as alianças que levaria ao altar. Pra que serviam? Por que tinha que usar? Benôni explicou que eram para mostrar que eles se amavam e que ficariam juntos para sempre. Você disse:
- Ah, entendi. É um anel do poder.
Benôni perguntou:
- É? E qual o poder dele?
- Poder do amor, claro!

Ah, e como esquecer a cena de, quando você chegou com as alianças, o padre, que não tinha participado do ensaio, lá do altar, fazia sinal para você entregar as alianças diretamente pra ele. Benôni, de costas para o padre e seguindo o ensaio, estendeu as mãos para pegar a caixinha das suas, mas você desviou dele e subiu ao altar para entregar ao padre. A igreja inteira riu da "sobrada" do noivo.

Anel de namoro

Infantil III, 2008, você aos 4 anos, me pede para comprar um anel.
- Anel, que tipo de anel, filho?
- Um anel de menina, mãe, bem bonito, pra eu pedir Carlinha lá da escola em namoro.
Saímos para comprar o anel, mas você preferiu uma almofadinha de coração, com uma ursinha em cima.
E deu a ela, e fez o pedido, e ela aceitou.
E, entre idas e vindas, essa historinha de vocês continua até hoje, 2012.

Eu fecho os olhos


Estávamos ali em Julho de 2007. Eu e seu pai já estávamos separados e ele tinha começado a sair com uma garota. E vocês três saíam muito juntos. Aí, um belo dia, você no auge dos seus 3 aninhos, durante um passeio com eles, falou:
- Pai, por que tu não pede ela em namoro? É, pai, ela é a maior gata, toda vez que a gente sai ela tá junto, pede logo ela em namoro, vai!
Pelo que você e seu pai me contaram, ele fez o pedido. Você:
-Vai, aceita!
Ela aceitou.
- Pronto, agora se beijem na boca, eu fecho os olhos.

Revelação


Você tinha 3 aninhos e fomos ao salão cortar seu cabelo. Seu cabeleireiro, Tio Rinaldo, apresentou você aos demais clientes como o namorado da filhinha dele, sua amiguinha que tinha virado anjinho. Todo orgulhoso, falava:
- Caio foi namorado de Julinha.
Você perguntou:
- Quer saber o que a gente fazia na escola?
Eu, nervosa:
- Hahaha... oxe filho, deixa o tio falar.
O tio:
- Fala, Caio, agora eu quero saber.
Você:
- A gente fugia pro banheiro.
- E o que vocês faziam no banheiro?
- A gente ficava beijando na boca e rindo.
E eu fiquei procurando um buraco pra enfiar minha cabeça.

Riso



Já mais recente, agora em 2010, você com 7 anos, tive que levá-lo comigo a uma audiência. A cliente se chamava Risoleide e estava extremamente tensa antes de começar. Você comentou comigo que com esse nome ela deveria rir mais. A audiência terminou e você perguntou:
- Ganhou ou perdeu?
- Ganhei.
- Então dê valor ao seu nome.

Socorro!


Com 4 anos, você foi convidado para ser noivinho no casamento de Erika e Benôni. No ensaio, conhecemos a coordenadora do cerimonial, ou seja, a pessoa que organizava tudo: o casamento na igreja, a festa, tudo! Ela chega:
- Oi Caio, como você é lindo! Meu nome é Socorro, chega batendo!
Você estendeu a mãozinha para tocar a dela e ficou olhando meio desconfiado. Enquanto ela explicava o que você teria que fazer, você, que ainda olhava fixamente para ela, perguntou:
- Quando as pessoas estão em perigo, chamam você?

Pior que essa Socorro, na hora do casamento, um pouco antes de você entrar com as alianças, enfiou um bombom enorme na sua boca, segundo ela, para lhe acalmar. Mas na verdade, era pra você fechar a matraca. Só que chegou a hora de você entrar e não dava pra ser com a boca cheia e mastigando. Aí ela pôs a mão no seu queixinho e pediu o bombom. Coitada, ficou uma meia hora limpando a mão da babada que você deu.

INHO - NÃO



Filho, dia desses, olhando seu livro de português do 4° ano, na página 118 encontrei um texto e lembrei exatamente de você lá pelos seus 2 aninhos até uns... 5, eu acho...

Você achava que palavras escritas com inho ou inha na verdade estavam em seus diminutivos.

Então, pela sua lógica, você as falava como achava corretas. Exemplo: cozinha, você falava coza (pronunciando tuza) porque ainda trocava o T pelo C.

Uma vez eu estava no quarto e estranhei o silêncio da casa. Aí perguntei:
- Caio, onde você está?
- Na tuza, mãe.
- Onde, filho?
- Ati na tuza.
- Tuza?
- É, mãe, ati na tuzinha, oxe!!!
Detalhe, quando cheguei, você estava quase dentro da geladeira, branco da cabeça aos pés. Corri e te catei feito uma louca, pois você tremia de frio e levei pro banheiro, pra tirar aquela farinha de trigo gelada que te cobria. Oh, mas que trela! Fiquei tão maluca que nem deu tempo de registrar com fotos. Uma pena!

Outra vez, comprei uma escrivaninha para o seu quarto. Aí, quando perguntei onde estava determinado brinquedo, você respondeu: tá ali mãe, na minha escrivana.

Segue o texto que me lembrou esses fatos, de Tatiana Belinky:


Inho, não!

Andrezinho tem três anos
E já se acha bem grandão,
É por isso que não gosta
De diminutivo, então.

Não suporta que lhe digam:
"Dá a mãozinha" (em vez de mão),
Ou que mandem: "A boquinha
Abre e come, coração!"

"Inho", "inha", "ito", "ita"
São para ele humilhação,
O diminutivo o irrita
O "Andrezim" prefere um "ão"!

Chama "gala" a galinha,
Não aceita correção,
"Escrivana", a "escrivaninha",
E o vizinho é "vizão".

Chama "coza" a cozinha
O toucinho é "toução"
É "campana" a campainha -
E ele próprio é o "Dezão"...